A culpa está no próprio ser. Embora não se tenha causado algum desagrado a
alguém, mesmo assim persiste a culpa, A culpa, a cima de tudo, não é uma razão,
mas um sentimento. É algo do qual se quer livrar-se. Apesar de alguém ter
certeza de que pode ser feliz, não o é porque subsiste o sentimento de culpa.
Junto com a culpa vem o remorso que mata, por dentro, a esperança de
felicidade. Por mais que se queira explicar a si mesmo que não há motivo de
culpa, ela reaparece enchendo a alma. É como Caim que vaga pelas florestas,
tomado de remorso pela morte do irmão Abel. Neste caso há uma causa, o
assassinato do irmão. E quando sem causa se sente a culpa? Desde que o homem
teve consciência de si, sentiu-se culpado. Se a causa de todas as culpas é a
primeira culpa da qual não sou culpado porque então sou culpado?
Por
que um pagão como Anaximandro diria que não há culpa maior do que o de ter
nascido? Por que Platão diria que a culpa é por não conhecer a verdade? O
cristianismo solucionou com o mistério ou mito do pecado original. Assim se
pode desfilar os grandes pensadores da humanidade como Rousseau que encontrou na
sociedade seu bode expiatório. Se não fosse a sociedade o homem poderia ir ao
encontro de seus desejos, satisfazer suas paixões, entregar-se à felicidade da
vida, sem culpa. O indivíduo é bom, não tem culpa. A
sociedade é má, a culpada.
Nietzsche,
na mesma linha, vê na sociedade não só estratégias de controle, mas formas de
poder. Há os que querem demonstrar que o mundo não é como deveria ser. Eles
dizem aos homens o que devem fazer, como se portar, até mesmo ordenando-lhe
agir contra a sua natureza. O próprio Deus seria um desses pretensos
idealizadores de felicidade. Mas todos estão mortos: monarcas, nobres, inclusive
Deus. Mas algo sobreviveu: o sentimento de culpa, conforme ele.
Já
Freud tira Deus do céu e o acomoda no coração do homem. Nele faz o papel de
juiz, o Superego. Este impõe ao homem um código moral que inevitavelmente é
transgredido, engendrando o sentimento de culpa.
E
nos filósofos da existência, como vêem a culpa. Para Jaspers é uma situação
limite, dela o homem não pode furtar-se. Heidegger vê na culpa um modo de ser
do ser-aí, uma atribuição substancial do ser humano. Em última análise, em
ambos a culpa é um trajeto inexorável. Tudo o que o homem fizer, ele pode ter
certeza que será culpado. Se fizer o bem, ou se fizer o mal, ou mesmo se não
fizer nada, sentir-se-á culpado. A culpa é a condição humana. E o pior dos
paradoxos da culpa: quanto menos culpado se é, mais culpa se sente. Um santo se
sente mais culpado que um assassino psicopata.
Entretanto,
a culpa existencial é uma falsa culpa, ou culpa contraditória. Se é culpado
porque se é um ser-aí. E este ser-aí é um fundamento do nada. Isto significa
que ninguém o colocou aí. Não foi o indivíduo o autor deste ser-aí, nem outro.
Logo, ele é um ser aí produto do nada. Como o nada dá origem a nada, logo ele,
homem, não está aí. E sendo assim não tem culpa de nada porque não é nada. Por
isso o ser-aí não pode ser causa de culpa e nem mesmo ser-aí.
Ou
o homem é um ser-aí por si ou por outro. Evidentemente ele não é por si, porque
se fosse não teria se feito apenas um ser-aí. Logo, ele é por outro, quer pela
matéria, quer pela espiritualidade ou outra entidade superior a ele. Mas o
porquê de sentir-se culpado é de poder se arrepender. Mas arrepender-se de quê?
De ter aceito ou continuar aceitando ser apenas uma existência. Qualquer outro
ser do universo pode não arrepender-se, menos o homem. Os demais seres não
sabem que estão-aí. Somente o homem tem esta consciência. Enquanto o homem
continuar aceitando esta condição de existência viverá se arrependendo e por
isso se sente culpado. Se o homem pudesse se livrar do arrependimento deixaria
de sentir-se culpado. Mas para desvencilhar-se do arrependimento da existência
a única saída é livrar-se da existência. Mas com certeza é preferível viver e
sentir-se culpado do que suicidar-se e livrar-se da culpa. Ele se arrepende de
querer viver e por isso se sente culpado perante Deus, perante seus semelhantes
e perante o universo. Se o homem como existência fosse imortal nunca se
sentiria culpado. O arrependimento da existência o faz culpado disso. Ou exista
e se arrependa e sinta-se culpado ou abandone a existência e livre-se do
arrependimento e da culpa.
A culpa sempre nos diminui tornando-nos incapazes de caminhar para nossa realização. Não somos perfeitos,tentamos aparar nossas arestas,somos aprendizes neste mundo,e a vivência pode ser uma experiência inesquecível de momentos bons,outros nem tanto.
ResponderExcluirMas o importante é termos a capacidade de acreditar na nossa boa e eterna vontade de acertar,sem culpa. Amor sincero não gera culpa,apenas é amor sem desculpas e sem culpa.
No geral nos apegamos as culpas e perdemos de viver a felicidade.
ResponderExcluirVitória Silva.
Bom demais,culpas nos tornam infelizes,apáticos. Devemos nos livrar destas malas.
ResponderExcluirNariê
Mas que dor carregar culpas,deixamos a felicidade e as coisas boas da vida.
ResponderExcluirDilce Matias
Muito bom. Trabalhar contra a culpa isto é importante,saber analisar e mudar.
ResponderExcluirQuestão é trabalhar contra a culpa e ser responsável.
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