A desconfiança é um sentimento que perturba e tira o sono de muitos
familiares que convivem com pessoas envolvidas com a dependência
química e a retomada da confiança perdida é algo muito difícil, que exige
esforços e paciência.
A
confiança é algo muito importante no fortalecimento de qualquer relação. Quando
as pessoas apresentam atitudes e comportamentos corretos, são equilibradas e
coerentes em relação aquilo que fazem e cumprem com o prometido, a confiança só
tende a aumentar, solidificando as relações, entretanto, quando ocorrem desvios
de comportamento e conduta, quando pisam na bola repetidamente, toda a
confiança é perdida, as relações se abalam e rapidamente a desconfiança ocupa o
seu espaço.
O envolvimento com substâncias entorpecentes é um fator que faz tremer
as relações, anulando a confiança por completo. O desenvolvimento da
dependência traz a tona algumas características marcantes na pessoa, como a
mentira, a chantagem, a manipulação e as promessas não cumpridas. Nunca estão
onde dizem estar, raramente cumprem com os horários combinados, dizem que vão
se cuidar, porém retornam para casa sobre efeito de álcool ou outras drogas.
Prometem que vão melhorar, mas não mostram mudança alguma.
Como a
dependência é um processo longo, uma doença progressiva, a desconfiança só
cresce, cresce e cresce. Quanto maior o tempo de envolvimento com as drogas,
mais enraíza nos familiares o sentimento de desconfiança, descrença e
desesperança.
Chega um
momento em que o jovem decide abandonar a dependência. Para isso alguns buscam
grupos de auto e mútua ajuda, outros fazem tratamento em clínicas ou
comunidades terapeutas. A família, por sua vez, participa de reuniões do
programa Amor-Exigente. Durante esse processo, a desconfiança continua: será
que vai dar certo; como será quando ele retornar; e se ele voltar a fazer uso;
e se sofrer uma recaída. Esses questionamentos perturbam e incomodam os
familiares, afinal foram tantas as promessas não cumpridas que as desconfianças
e incertezas ainda prevalecem com muita força.
Ao final
de uma internação, eles vivem outro momento. O recuperando está buscando viver
em sobriedade, tentando construir uma nova vida. Nesta fase eles buscam
resgatar a confiança perdida, contudo precisam aprender a conviver com ela,
pois esse sentimento está fortemente enraizado na família. Por mais que os
familiares desejam confiar, isso não é tarefa tão simples assim.
A retomada
da confiança é um processo muito lento que não se recupera com palavras ou
promessas do recuperando, mas através de atitudes e comportamentos adequados e
equilibrados.
Isso será
facilitado quando o dependente em recuperação, num exercício de humildade,
procurar posicionar os familiares em relação ao que pretende fazer, onde deseja
ir, a que horas pretende voltar e consequentemente, cumprir rigorosamente com
aquilo que estabeleceu. Esta atitude, vagarosamente vai proporcionando
segurança aos familiares e assim encurtando o processo de retomada da
confiança.
Em relação
aos familiares, sabemos que não é fácil recuperar a confiança perdida depois de
anos de problemas e promessas e seu resgate vai depender muito das atitudes
apresentadas pelo outro, contudo, precisamos adotar algumas posturas para lidar
com nossas desconfianças.
Aprender a
viver o dia de hoje é uma forma de proteção aos familiares que convivem com um
dependente em recuperação. Se hoje tudo está bem, precisamos viver bem o dia de
hoje, sem atolar o pensamento naquilo que pode dar errado amanhã. Precisamos
lutar contra o sofrimento por antecipação, tentar não projetar o negativismo
para o amanhã, evitando não sofrer por aquilo que ainda não aconteceu.
Precisamos
aprender a confiar, desconfiando. Estar sempre atentos, espertos, ligados,
porém não fazer da desconfiança uma marcação cerrada, com cobranças exageradas,
lembrando-o a todo instante sobre sua dependência, investigando seus pertences
como um detetive. Devemos evitar falar com ele como se ele fosse fazer uso,
todas as vezes que ele sair de casa e evitar recebê-lo como se ele tivesse
usado no momento em que retornam para a casa. Caso apresentem sinais visíveis
de uso, uma conversa franca no dia seguinte é muito mais produtiva que barulhos
e discussões.
Se um
pouquinho de desconfiança ajuda a ficarmos atentos, ligados e prontos para
adotar alguma ação caso surja algum problema, demonstrar desconfiança exagerada
em nada ajuda, pois o dependente em luta pela recuperação, ao não perceber
nenhuma confiança e empenha da família poderá utilizar isso como a desculpa que
precisa para retomar o uso.
No resgate
da confiança perdida precisamos dar tempo ao tempo, viver o dia de hoje. Se a
perda da confiança é processo veloz como um guepardo, sua recuperação é lenta
como uma tartaruga. É preciso muita paciência.
Amor-Exigente de Sertãozinho SP

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