E eles? Caso MC Melody ofusca erotização de meninos no
funk
(Gentileza de Maria de Lourdes Retamal)
De Londres
MC Melody, a funkeira
de 8 anos que
aparece em vídeos com roupas justas, cantando sobre "recalque" e dançando
no chão de uma casa noturna paulista, alcançou o topo entre os assuntos mais
buscados no Google na última quinta-feira (23).
Mas o mesmo não ocorreu com MC Brinquedo, MC Pedrinho e MC Pikachu --funkeiros-mirins com milhões de
seguidores nas redes sociais, famosos pelas letras pornográficas que cantam por
aí.
Como a BBC Brasil revelou na sexta-feira, a "erotização" destes cantores por familiares e produtores está sendo investigada pelo Ministério Público de São Paulo. Entretanto, mesmo com letras mais pesadas que as de Melody (que não usa palavrões, referências a drogas ou sexo explícito), os meninos do funk vêm sendo poupados de críticas.
Enquanto o verso mais polêmico de Melody diz "para todas as recalcadas, aí vai minha resposta, se é bonito ou se é feio, mas é foda ser gostosa", o refrão mais conhecido de MC Brinquedo (13 anos) afirma: "Tu vai lamber, tu vai dar beijo, tu vai mamar com essa boquinha de aparelho".
MC Pedrinho, 12, é conhecido como desbocado: "Como é bom transar com a p*** profissional. Vem f**** no clima quente, no calor de 30 graus".
MC Pikachu, de 15 anos, vai além: "Estava na rua, fumando um baseado, chegou a novinha e pediu para dar um trago (...) Dá a b***** para mim, (dá) o c* e fuma".
Além da erotização infantil, a diferença no tratamento entre funkeiros e funkeiras mirins leva a uma discussão sobre gênero: a sexualização dos meninos é permitida e a das meninas não?
Machismo
Procurado, o pai de MC Pedrinho disse que não falaria. A BBC Brasil também tentou contato por telefone com a KL Produtora, responsável pelas carreiras de MC Brinquedo e MC Pikachu, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.
Para Claudia Bonfim, pesquisadora da Unicamp, especialista em educação sexual, a discussão reflete a "desigualdade de gênero histórica" e a "educação machista" presentes da sociedade brasileira.
"O padrão moral para meninos e meninas é diferente aqui no Brasil. Menininhos de 2 ou 3 anos de idade são estimulados a mostrar o pipi para familiares em sinal de masculinidade", diz. "Já às meninas pede-se discrição, sobriedade --elas têm que se sentar de pernas fechadas, por exemplo."
A questão também foi levantada por leitores nas redes sociais. Pelo perfil da BBC Brasil no Facebook, o comentário da leitora Zulmira Bracco alcançou 2.170 curtidas:
"Aproveitando o embalo vejam também o MC Pedrinho - Dom Dom Dom - 12 anos,
Como a BBC Brasil revelou na sexta-feira, a "erotização" destes cantores por familiares e produtores está sendo investigada pelo Ministério Público de São Paulo. Entretanto, mesmo com letras mais pesadas que as de Melody (que não usa palavrões, referências a drogas ou sexo explícito), os meninos do funk vêm sendo poupados de críticas.
Enquanto o verso mais polêmico de Melody diz "para todas as recalcadas, aí vai minha resposta, se é bonito ou se é feio, mas é foda ser gostosa", o refrão mais conhecido de MC Brinquedo (13 anos) afirma: "Tu vai lamber, tu vai dar beijo, tu vai mamar com essa boquinha de aparelho".
MC Pedrinho, 12, é conhecido como desbocado: "Como é bom transar com a p*** profissional. Vem f**** no clima quente, no calor de 30 graus".
MC Pikachu, de 15 anos, vai além: "Estava na rua, fumando um baseado, chegou a novinha e pediu para dar um trago (...) Dá a b***** para mim, (dá) o c* e fuma".
Além da erotização infantil, a diferença no tratamento entre funkeiros e funkeiras mirins leva a uma discussão sobre gênero: a sexualização dos meninos é permitida e a das meninas não?
Machismo
Procurado, o pai de MC Pedrinho disse que não falaria. A BBC Brasil também tentou contato por telefone com a KL Produtora, responsável pelas carreiras de MC Brinquedo e MC Pikachu, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.
Para Claudia Bonfim, pesquisadora da Unicamp, especialista em educação sexual, a discussão reflete a "desigualdade de gênero histórica" e a "educação machista" presentes da sociedade brasileira.
"O padrão moral para meninos e meninas é diferente aqui no Brasil. Menininhos de 2 ou 3 anos de idade são estimulados a mostrar o pipi para familiares em sinal de masculinidade", diz. "Já às meninas pede-se discrição, sobriedade --elas têm que se sentar de pernas fechadas, por exemplo."
A questão também foi levantada por leitores nas redes sociais. Pelo perfil da BBC Brasil no Facebook, o comentário da leitora Zulmira Bracco alcançou 2.170 curtidas:
"Aproveitando o embalo vejam também o MC Pedrinho - Dom Dom Dom - 12 anos,
Bonfim.
Reprodução/Facebook
Imagem
mostra contato para shows da MC Melody
Estigmatização
A popularidade dos funkeiros-mirins é atestada por sua audiência nas redes sociais: "Roça Roça", de MC Brinquedo, alcançou mais de 10,5 milhões de visualizações em menos de dois meses no YouTube.
Nas mesmas redes, após o caso MC Melody, o genero musical funk vem sendo alvo de ataques frequentes.
"Tem que acabar com o funk", disse um internauta, pelo Twitter. "Ofunk é um câncer que precisa ser estirpado do Brasil", afirmou outro, via Facebook.
A professora da Unicamp contemporiza. "A música sertaneja no Brasil tem letras e coreografias que também induzem à sexualização e as crianças estão reproduzindo sem críticas", afirma.
"No axé, idem. Às vezes não é a letra que está carregada de sexualidade, mas a coreografia sim", diz Bonfim. "Infelizmente sabemos que o funk sofre muito preconceito no Brasil, mas é importante lembrar que o problema não está só nele."
A perseguição ao funk é o argumento de MC Belinho, pai de MC Melody, que em vídeo publicado recentemente no Facebook disse ser alvo de ameaças de morte por conta da exposição da filha.
"Só estão criticando porque ela canta funk", disse.
A popularidade dos funkeiros-mirins é atestada por sua audiência nas redes sociais: "Roça Roça", de MC Brinquedo, alcançou mais de 10,5 milhões de visualizações em menos de dois meses no YouTube.
Nas mesmas redes, após o caso MC Melody, o genero musical funk vem sendo alvo de ataques frequentes.
"Tem que acabar com o funk", disse um internauta, pelo Twitter. "Ofunk é um câncer que precisa ser estirpado do Brasil", afirmou outro, via Facebook.
A professora da Unicamp contemporiza. "A música sertaneja no Brasil tem letras e coreografias que também induzem à sexualização e as crianças estão reproduzindo sem críticas", afirma.
"No axé, idem. Às vezes não é a letra que está carregada de sexualidade, mas a coreografia sim", diz Bonfim. "Infelizmente sabemos que o funk sofre muito preconceito no Brasil, mas é importante lembrar que o problema não está só nele."
A perseguição ao funk é o argumento de MC Belinho, pai de MC Melody, que em vídeo publicado recentemente no Facebook disse ser alvo de ameaças de morte por conta da exposição da filha.
"Só estão criticando porque ela canta funk", disse.
Mas por ser do
sexo masculino a sexualização precoce dele passa despercebida, na lei do 'meu
filho pode tudo, minha filha não
pode nada'.Vamos entender que não podem e não devem porque são crianças e
não pelo gênero sexual com o qual nasceram", escreveu.
Para a especialista da Unicamp, autora dos livros Educação Sexual e Formação de Professores: da educação sexual que temos à educação que queremos e Desnudando a Educação Sexual, "o tratamento desigual sobre a sexualização de meninos e meninas tem que ser superado".
"A cada cinco minutos uma mulher sofre violência no Brasil e isso é fruto da desigualdade de gêneros", ressalta Claudia Bonfim, que afirma que esta exposição pode render prejuízos e traumas como "vida sexual reprimida ou o contrário, quantitativa, muito genitalizada, em uma busca desesperada por prazer."
O comentário não indica, entretanto, que sexo deva ser um tabu entre as crianças.
"A sexualidade está presente desde sempre e não só pode como deve ser discutida junto aos pais de maneira delicada, não necessariamente só pela palavra, mas por gestos, toques, com cuidado", diz Bonfim.
Para a especialista da Unicamp, autora dos livros Educação Sexual e Formação de Professores: da educação sexual que temos à educação que queremos e Desnudando a Educação Sexual, "o tratamento desigual sobre a sexualização de meninos e meninas tem que ser superado".
"A cada cinco minutos uma mulher sofre violência no Brasil e isso é fruto da desigualdade de gêneros", ressalta Claudia Bonfim, que afirma que esta exposição pode render prejuízos e traumas como "vida sexual reprimida ou o contrário, quantitativa, muito genitalizada, em uma busca desesperada por prazer."
O comentário não indica, entretanto, que sexo deva ser um tabu entre as crianças.
"A sexualidade está presente desde sempre e não só pode como deve ser discutida junto aos pais de maneira delicada, não necessariamente só pela palavra, mas por gestos, toques, com cuidado", diz Bonfim.
Horrível o que estão fazendo com nossas crianças.
ResponderExcluirDirce.
Os pais realmente estão doentes, perderam o senso de responsabilidade na educação de seus filhos. Pobre geração órfão.
ResponderExcluirImagina que amor materno expondo suas crianças desta forma.
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