(Gentileza de Ione Rossi Scherer)
Não é quando exerço plena autoridade
materna ou quando estou fortalecida pela coragem e vitalidade que eu mais me
sinto mãe. É exatamente quando estou fragilidade pelas vicissitudes e baqueada
por dores físicas ou emocionais que verdadeiramente me coloco na posição de
mãe.
Já vai longe o tempo em que tinha
vigor para sustentar os filhos nos braços. Hoje eles me põem no colo e afagam o
meu coração se preciso recobrar forças para enfrentar os embates que não poupam
os que envelhecem.
Não preciso dar-lhes conselho sobre
coisa alguma, eles sabem dispor de suas vidas com discernimento e equilíbrio.
Porém, a gentileza deles é tamanha que jamais se esquecem de me dar a sensação
de que meus conselhos são os mais sábios e as minhas indicações de caminhos as
melhores, embora saibam que acumulei equívocos que me custaram calos na alma.
Às vezes me escapa o riso e choro
muito. Nesses dias, meus filhos alternam a leveza da juventude, que sorri com
facilidade, com o acolhimento de quem compreende, mas não reforça a tristeza,
espanta-a! É quando eles aliam solidariedade com entendimento, e não deixam que
eu me arraste no motivo da tristeza. Ajudam-me a resolvê-la, antes me
devolvendo o ânimo.
Se não sei todas as respostas para as
perguntas que faço, eles fazem cessar os questionamentos com a confiança de
tudo vai ficar bem pela aceitação das circunstâncias, mesmo que eu não entenda
alguns fatos. A mente inquieta impede o melhor raciocínio e as decisões
acertadas, então serenam as minhas angústias.
Quando insisto em remexer o passado,
meus filhos me lembram que esse é um lugar de visita, não de permanência, e que
é para frente que se anda. Eles mostram que, mais importante que o ontem e o
amanhã, é verdadeiro presente estar aqui e agora, aproveitando o melhor que o
hoje oferece. Saudosismo não combina com quem cultiva esperanças e se banha em
otimismo todos os dias, e não se deve alimentar sequer a saudade boa, pois ela
machuca e ao mesmo tempo retém as lembranças do que – ou quem – passou e não
voltará.
Nos momentos em que evito encarar no
espelho a denúncia que a vida construiu rugas em meu rosto e pintou de prata reluzente
a cor dos meus cabelos, meus filhos apontam uma beleza que reconheço apenas no
olhar amoroso deles, mas acredito. Ao constatar que o meu corpo exibe as
implacáveis marcas do tempo, eles insistem que estou cada vez melhor, e troco a
vaidade pela concordância com o novo desenho da aparência. Eles não dão valor
ao que é efêmero, passageiro, provisório. Cultivam o que, por seu valor, merece
conquistar vaga na eternidade. Beleza não acaba, muda. E ao envelhecer, mãe
fica ainda mais bonita, e isso não é consolo. É que a gente mais a aceita como
é.
Se a desesperança se avizinha, eles
correm em meu socorro. Tiram da memória todas as minhas vitórias e fazem delas
bandeirolas para enfeitar a minha janela, recordando o meu antigo entusiasmo e
a eficaz valentia para resolver problemas, sem me deixar abater. Pegam-me pelas
mãos e andam comigo pelo jardim, entre flores e borboletas, e enquanto elas
viverem, a alegria é uma real possibilidade. Levam-me, depois, ao pomar e
colhem frutos doces, saboreados na hora, para elevar a gratidão à natureza
generosa e farta, apesar dos ataques que sofre. Erguem os braços para o céu e
saúdam o sol que anima o dia. À noite, fazem-me retornar à contemplação da lua
e das estrelas que adornam o meu recanto. De fato, não dá para chorar por
qualquer coisa ou por quem não merece! A vida é mesmo bela, apesar do peso dos
pesares.
Quando tenho impressão de que vou
desanimar e sucumbir, meus filhos reacendem minha luz interior, onde tudo se
resolve. Recobram em mim a fé que lhes demonstrei, a coragem que lhe dei como
exemplo, a perseverança que tive como impulso realizador, a persistência que
alavanca projetos e a determinação que afasta obstáculos. Carinhosos, eles me
lembram a pessoa que sou, se esqueço de mim e do que posso ainda ser. Nos
momentos em que eles se revelam no que lhes ensinei, é que realmente vejo a mãe
que sou. Assim, sou toda gratidão ao ventre de onde vim e ao meu ventre, que os
gerou. Graças dou à minha mãe, aos filhos que tenho e à mãe que pude ser.
(Crônica publicada no jornal A
Razão na edição de 12 e 13 de maio de 2012.)
Uma beleza de homenagem a todas as mães.
ResponderExcluirPor todas que aqui são homenageadas agradeço.
Que bela homenagem. Muito real.
ResponderExcluirAgradeço
Seleni
Caçapava.
Muito obrigada!
ResponderExcluirNice Maria Soares Machado
Muito obrigada!
ResponderExcluirNice Maria Soares Machado