(Enviado por Rose Braunstein)
SUGESTÃO PARA ESPIRITUALIDADE
“Tende coragem! Eu
venci o mundo.” (Jo 16,33)
Com essas palavras concluem-se os discursos de despedida
dirigidos por Jesus aos discípulos na sua última ceia, antes de morrer. Foi um
diálogo denso, em que revelou a realidade mais profunda do seu relacionamento
com o Pai e da missão que este lhe confiou.
Jesus está prestes a deixar a terra e voltar ao Pai,
enquanto que os discípulos permanecerão no mundo para continuar a sua obra.
Também eles, como Jesus, serão odiados, perseguidos, até mesmo mortos (cf.
15,18.20; 16,2). Sua missão será difícil, como foi a Dele: “No mundo tereis
aflições”, como acabara de dizer (16,33).
Jesus fala aos apóstolos, reunidos ao seu redor para aquela
última ceia, mas tem diante de si todas as gerações de discípulos que haveriam
de segui-lo, inclusive nós.
É a pura verdade: entre as alegrias esparsas no nosso
caminho não faltam as “aflições”: a incerteza do futuro, a precariedade do
trabalho, a pobreza e as doenças, os sofrimentos causados pelas calamidades
naturais e pelas guerras, a violência disseminada em casa e entre os povos. E
existem ainda as aflições ligadas ao fato de alguém ser cristão: a luta diária
para manter-se coerente com o Evangelho, a sensação de
impotência diante de uma sociedade que parece indiferente à mensagem de Deus, a
zombaria, o desprezo, quando não a perseguição aberta, por parte de quem não
entende a Igreja ou a ela se opõe.
Jesus conhece as aflições, pois viveu-as em primeira pessoa.
Mas diz:
“Tende coragem! Eu
venci o mundo.”
Essa afirmação, tão decidida e convicta, parece uma
contradição. Como Jesus pode afirmar que venceu o mundo, quando pouco depois é
preso, flagelado, condenado, morto da maneira mais cruel e vergonhosa? Mais do
que ter vencido, Ele parece ter sido traído, rejeitado, reduzido a nada e,
portanto, ter sido clamorosamente derrotado.
Em que consiste a sua vitória? Com certeza é na
ressurreição: a morte não pode mantê-lo cativo. E a sua vitória é tão potente,
que faz com que também nós participemos dela: Ele torna-se presente entre nós e
nos leva consigo à vida plena, à nova criação.
Mas antes disso ainda, a sua vitória consistiu no ato de
amar com aquele amor maior, de dar a vida por nós. É aí, na derrota, que Ele
triunfa plenamente. Penetrando em cada canto da morte, libertou-nos de tudo o
que nos oprime e transformou tudo o que temos de negativo, de escuridão e de
dor, em um encontro com Ele, Deus, Amor, plenitude.
Cada vez que Paulo pensava na vitória de Jesus, parecia
enlouquecer de alegria. Se é verdade, como ele dizia, que Jesus enfrentou todas
as contrariedades, até a adversidade extrema da morte e as venceu, também é
verdade que nós, com Ele e Nele, podemos vencer todo tipo de dificuldade. Mais
ainda, graças ao seu amor somos “mais que vencedores”: “Tenho certeza de que
nem a morte, nem a vida [...], nem outra criatura qualquer será capaz de nos
separar do amor de Deus, que está no Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,37; cf. 1Cor 15,57).
Então compreende-se o convite de Jesus a não ter medo de mais
nada:
“Tende coragem! Eu
venci o mundo.”
Essa frase de Jesus poderá nos infundir confiança e
esperança. Por mais duras e difíceis que possam ser as circunstâncias em que
nos encontramos, elas já foram vividas e superadas por Jesus.
É verdade que não temos a sua força interior, mas temos a
presença Dele mesmo, que vive e luta conosco. “Se tu venceste o mundo” –
diremos a Ele nas dificuldades, provações, tentações – “saberás vencer também
esta minha ‘aflição’. Para mim, para todos nós, ela parece um obstáculo
intransponível. Temos a impressão de não dar conta. Mas com tua presença entre
nós encontraremos a coragem e a força, até chegarmos a ser ‘mais que
vencedores’”.
Não é uma visão triunfalista da vida cristã, como se tudo
fosse fácil e coisa já resolvida. Jesus é vitorioso justamente no drama do
sofrimento, da injustiça, do abandono e da morte. A sua vitória é a de quem
enfrenta a dor por amor, de quem acredita na vida após a morte.
Talvez também nós, como Jesus e como os mártires, tenhamos
de esperar o Céu para ver a plena vitória sobre o mal. Muitas vezes temos
receio de falar do Paraíso, como se esse pensamento fosse uma droga para não
enfrentar com coragem as dificuldades, uma anestesia para suavizar os
sofrimentos, uma desculpa para não lutar contra as injustiças. Ao contrário, a
esperança do Céu e a fé na ressurreição são um poderoso impulso para enfrentar
qualquer adversidade, para sustentar os outros nas provações, para acreditar
que a palavra final é a do amor que venceu o ódio, da vida que derrotou a
morte.
Portanto, em qualquer dificuldade, seja ela pessoal ou de
outros, renovemos a confiança em Jesus, presente em nós e entre nós: Ele venceu
o mundo e nos torna participantes da sua própria vitória, Ele nos escancara o
Paraíso, para onde foi preparar-nos um lugar. Desse modo encontraremos a
coragem para enfrentar toda provação. Seremos capazes de superar tudo, Naquele
que nos dá a força.
Fabio Ciardi
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