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segunda-feira, 1 de maio de 2017
Culpa: Um sentimento que paralisa
A culpa é um sentimento paralisante que afeta intensamente os pais de dependentes químicos, causando-lhes grandes sofrimentos. Ela costuma se instalar a partir do momento em que os familiares atravessam a fase da negação e reconhecem que estão enfrentando um problema.
Nesse momento surge o primeiro questionamento: Onde será que erramos? Assim, inicia-se o jogo da culpa numa tentativa vã de descobrir os porquês. Caso os pais sejam separados, atribuem a culpa a separação. Caso vivem juntos, acreditam que são culpados porque a mãe precisou trabalhar fora. Se a mãe não trabalha fora, acreditam que a culpa foi porque o mimaram demais quando pequeno, ou porque ele foi morar com a avó, ou porque foi um menino muito doente de pequeno, ou porque a família passou por dificuldades financeiras ou se culpam por haver demorado em descobrir. A busca continua até encontrarem algum ponto onde possam se agarrar na tentativa de justificar o fato indesejado.
Num segundo momento, os pais começam a culpar um ao outro. De acordo com o pai, a culpa é da mãe, porque era ela quem ficava em casa com o filho e deveria ter percebido que algo estava acontecendo. Por sua vez, a mãe culpa o pai, porque ele também deveria se responsabilizar e só pensava no trabalho. Não raro, ofendem-se, discutem e brigam.
O jogo da culpa vai se expandindo e começam a buscar os culpados fora da casa. Por vezes culpam os avós, por tê-lo mimado demais. Culpam os primos julgando que foram eles que o levou para o mau caminho. Saindo do grupo familiar, culpam os amigos, acreditando que foram eles quem fez a cabeça do garoto. Não bastasse tudo isso, eles culpam ainda a escola, as leis, os traficantes, o sistema, a polícia, os políticos, etc.
Vizinhos, parentes e pessoas despreparadas, sem conhecimento da complexidade do problema, gostam de opinar e o que fazem é reforçar ainda mais os sentimentos de culpa familiar, como se os pais tivessem falhado na educação do filho.
De toda essa procura pelos culpados, o próprio usuário costuma ser poupado, como se ele fosse o coitadinho, a vítima de todos. Ele, por sua vez, reforça ainda mais o sentimento de culpa, jogando toda a carga para os pais. Enquanto existir um culpado por tudo aquilo que ele faz de errado, ele está isento de assumir suas falhas, suas responsabilidades.
O sentimento de culpa nunca vem sozinho. Ele atrai outros sentimentos derrotistas, como a autopunição, a autopiedade, a vergonha, a frustração, etc. Com todos esses sentimentos desencadeados, os pais perdem as forças e paralisam. Esta paralisia ocorre porque a culta está relacionada a algum fato passado, algo que já aconteceu e não há como modificar aquilo que já passou. A culpa ligada a algo que já passou deixa os pais sem ação: - Se eu tivesse feito assim; se eu não tivesse feito isso; se eu tivesse feito diferente, e por aí vai. Como não é possível modificar o que passou, então sofrem, então adoecem e paralisam.
Por vezes chegam a reconhecer que é preciso agir, fazer alguma coisa, tomar alguma atitude para resolver o problema, mas como estão adoecidos pelo sentimento da culpa, também começam a se culpar por algo que ainda não aconteceu. Tudo aquilo que planejam fazer, esbarram no “E SE”: - E se eu não der dinheiro e ele for roubar; e se eu endurecer e ele fugir de casa; E se eu não pagar a dívida e alguém o matar. Como só pensam negativo, naquilo que pode dar errado, mais uma vez ficam sem ação.
Dá para perceber que a culpa tira dos pais a capacidade de viverem o momento presente: ou estão buscando as causas no passado ou estão projetando o que pode dar errado no futuro. Acontece que para mudar os rumos das coisas é preciso agir, fazer algo, tomar alguma atitude e isso só pode ser feito no presente, para tanto é preciso lutar contra o sentimento de culpa, sair desse jogo onde, ora se culpam, ora procuram os culpados. Jogo onde não existem ganhadores, só perdedores.
Este jogo de culpas e culpados ainda possui mais um papel: o de vítima. Na posição de vítima, os pais utilizam o filho problema como o bode expiatório da família. Tudo aquilo que der errado com eles próprios, justificam a falha no filho problema. Caso os pais estão com problemas no emprego, justificam que é devido o desajuste do filho, se o casal está em pé de guerra, também culpam a dependência do filho para justificar e tirar o foco dos reais motivos de seus problemas.
Para modificar esse processo doentio é preciso acabar com culpas e culpados, parar de se fazer de vítima, enxergar o foco do problema e não buscar causas fora dele para justificá-lo e sozinho é tarefa difícil, portanto, é fundamental buscar ajuda e os grupos de apoio do Programa Amor-Exigente são de extrema importância nesse momento, pois possibilita aos pais lidarem com um problema complexo de forma assertiva, direcionada, norteada por princípios básicos e éticos, ajudando-os a se livrarem desse sentimento que provoca tanto sofrimento e sofrimento de pais não é suficiente para salva seus filhos.
Texto de Celso Garrefa (Amor-Exigente de Sertãozinho)
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