sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A Importância da Família.



Inclusão da família ( nas comunidades Terapêuticas)

Quanto mais íamos nos sensibilizando, melhor detectávamos a queixa emocional incluída na conduta sintomática dos pacientes. E à medida que íamos vivendo na própria carne, por assim dizer, as situações intensamente traumáticas que os pacientes reviviam conosco, foi se tornando cada vez mais evidente a presença das figuras parentais patológicas, incluídas nas identificações projetivas sucessivas e nas transferências psicóticas. Ou seja, reativavam-se nos doentes as identificações primárias patogênicas. Nestas condições, foi-se tornando cada vez mais necessária a presença real da família do paciente. Os trabalhos sobre terapia familiar que haviam começado na década de cincoenta traziam agora, neste novo contexto, elementos complementares para a compreensão dos fenômenos que estávamos descobrindo. Começamos então a incluir os familiares, fazendo-os participar nos grupos terapêuticos. A comunidade enriqueceu-se subitamente com uma problemática nova que trazia elementos muito valiosos para poder entender melhor muitos dos fenômenos clínicos que vínhamos observando e que descrevemos anteriormente.

Em primeiro lugar, começamos a descobrir que os familiares dos pacientes, ainda que com capacidades adaptativas parciais, que os faziam aparecer como pessoas idôneas para se colocarem na vida de relação, eram seres imaturos que apresentavam dificuldades psicológicas muito importantes no terreno emocional e em particular na relação interpessoal, evidenciáveis sobretudo nas situações grupais. Em relação ao familiar doente sentiam-se deslocados. Suas atitudes resultavam-lhes incompreensíveis e angustiantes, e acabavam por fazer uma construção mental em que a pessoa do paciente desaparecia sob.o rótulo de doente. Assim, de algum modo podiam justificar a dificuldade de se comunicarem com ele. Os mal-entendidos de todo tipo, os rancores e ressentimentos acumulados, as reprovações mudas e as reclamações indiretas incompreendidas, tinham desaparecido sob a forma de uma doença mental que servia agora de pretexto para pôr a conflitiva interpessoal de longa data em um mesmo saco. A história de toda uma vida de sérios desencontros emocionais com as figuras parentais mais significativas havia se condensado em sintomas psicóticos cada vez mais herméticos e incompreensíveis. Neste contexto comunitário foi-se tornando mais evidente que sendo os pais, na maioria dos casos, incapazes de se encarregarem das profundas angústias destes doentes, que lítica apresentam como seres imaturos e necessitados de figuras parentais capazes de preencher a função de objetos estruturantes de recursos egóicos sãos, a enfermidade mental neste sentido não podia ser considerada como um acidente fortuito, que aparece de forma inesperada e casual, mas sim revelava-se como o fracasso declarado e manifesto de todo um desenvolvimento frustrado e interrompido.(Comunidade Terapêutica Psicanalíca de Estrutura Multifamiliar. Jorge E.García Badaracco. Artmed, São Paulo)

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