Inclusão da família ( nas comunidades Terapêuticas)
Quanto mais íamos nos sensibilizando, melhor detectávamos
a queixa emocional incluída na conduta sintomática dos pacientes. E à medida
que íamos vivendo na própria carne, por assim dizer, as situações intensamente
traumáticas que os pacientes reviviam conosco, foi se tornando cada vez mais
evidente a presença das figuras parentais patológicas, incluídas nas identificações
projetivas sucessivas e nas transferências psicóticas. Ou seja, reativavam-se
nos doentes as identificações primárias patogênicas. Nestas condições, foi-se
tornando cada vez mais necessária a presença real da família do paciente. Os
trabalhos sobre terapia familiar que haviam começado na década de cincoenta
traziam agora, neste novo contexto, elementos complementares para a compreensão
dos fenômenos que estávamos descobrindo. Começamos então a incluir os
familiares, fazendo-os participar nos grupos terapêuticos. A comunidade
enriqueceu-se subitamente com uma problemática nova que trazia elementos muito
valiosos para poder entender melhor muitos dos fenômenos clínicos que vínhamos
observando e que descrevemos anteriormente.
Em primeiro lugar, começamos a descobrir que os
familiares dos pacientes, ainda que com capacidades adaptativas parciais, que
os faziam aparecer como pessoas idôneas para se colocarem na vida de relação,
eram seres imaturos que apresentavam dificuldades psicológicas muito
importantes no terreno emocional e em particular na relação interpessoal,
evidenciáveis sobretudo nas situações grupais. Em relação ao familiar doente
sentiam-se deslocados. Suas atitudes resultavam-lhes incompreensíveis e angustiantes,
e acabavam por fazer uma construção mental em que a pessoa do paciente
desaparecia sob.o rótulo de doente. Assim, de algum modo podiam justificar a
dificuldade de se comunicarem com ele. Os mal-entendidos de todo tipo, os
rancores e ressentimentos acumulados, as reprovações mudas e as reclamações
indiretas incompreendidas, tinham desaparecido sob a forma de uma doença mental
que servia agora de pretexto para pôr a conflitiva interpessoal de longa data
em um mesmo saco. A história de toda uma vida de sérios desencontros emocionais
com as figuras parentais mais significativas havia se condensado em sintomas
psicóticos cada vez mais herméticos e incompreensíveis. Neste contexto
comunitário foi-se tornando mais evidente que sendo os pais, na maioria dos
casos, incapazes de se encarregarem das profundas angústias destes doentes, que
lítica apresentam como seres imaturos e necessitados de figuras parentais
capazes de preencher a função de objetos estruturantes de recursos egóicos
sãos, a enfermidade mental neste sentido não podia ser considerada como um
acidente fortuito, que aparece de forma inesperada e casual, mas sim
revelava-se como o fracasso declarado e manifesto de todo um desenvolvimento
frustrado e interrompido.(Comunidade Terapêutica Psicanalíca de Estrutura
Multifamiliar. Jorge E.García Badaracco. Artmed, São Paulo)
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