Olhando para frente.
De fato, o que fizemos até aqui foi verificar o atual
“status” da palavra FAMILIA e os conteúdos mais centrais que lhe dizem
respeito. Creio que nos compete agora tentar indicar alguns caminhos, algumas
atitudes próprias para os grupos de Amor Exigente — AE, na sua tarefa de ajudar
as pessoas; sobretudo as famílias, a qualificarem sempre melhor a vida que lhes
foi ofertada como um dom, uma tarefa e uma missão.
Lendo mais uma vez os Doze Princípios do Amor Exigente, fico
com a impressão de que eles, na sua estrutura e dinâmica, percorrem o mesmo
caminho que estamos fazendo. Os quatro primeiros princípios (raízes culturais —
os pais também são gente — os recursos são limitados — pais e filhos não são
iguais) nos fazem olhar para a realidade da família, seus condicionamentos,
suas virtudes e suas fraquezas. Este foi o primeiro ponto da nossa reflexão. Os
quatro princípios seguintes (a culpa — comportamento — tomada de atitude — a
crise) nos fazem pensar sobre os “porões” da família, seus fundamentos, seus
valores e atitudes construtivas, seu alcance e seus limites. Este foi o segundo
ponto da nossa reflexão. E os últimos quatro princípios de AE (grupo de apoio —
cooperação — exigência e disciplina — amor) correspondem ao terceiro ponto da
nossa reflexão que faremos agora diante da pergunta: “o que fazer?”
Abrir-se para o serviço gratuito aos que mais precisam. A
participação no voluntariado. Não somos educados para a participação. Parece
que os traços da nossa cultura nacional não contempla, assim como em outros
países, o aprendizado através do amor e da dor, através da solidariedade e da
compaixão. E perdemos a chance formidável de nos tornarmos pessoas melhores
pela doação, pela gratuidade. Como seria bom se cada membro da família tivesse
um engajamento bem concreto que lhe possibilitasse gastar algumas horas
semanais pelo bem de outras pessoas, sem cobrança de resultados, sem estresse
de porcentagens, de conquistas, pois os gestos solidários não tem preço e não
tem medida. São apenas gestos de bondade e de ternura. Assim, poderíamos ter
conteúdos bem mais interessantes para aquelas conversas de família, para
aquelas partilhas de vida, tão necessárias, úteis e construtivas. Talvez nos
encontrássemos com mais frequência na sala de nossa casa para um “papo legal”,
sem precisar assar carne e embriagar-se para poder sorrir. Sair da condição de
parasitas que enfraquecem a árvore da vida para nos tornarmos galhos frondosos
que a fortalecem e a fazem dar bons frutos.
Abrir-se para a construção de uma sociedade melhor. A
participação nos conselhos paritários e nos clubes de serviço . A sociedade
civil está cada vez mais organizada. Surgem organismos, entidades, grupos,
clubes de serviço, conselhos paritários (do idoso, alimentar, tutelar, dos direitos
humanos, comunitários...) como formas concretas para o exercício da cidadania e
da democracia participativa. Parece que estamos amadurecendo, à duras penas,
mas vamos progredindo na criação de redes que tornam o tecido social mais resistente.
Nada sem imperfeições, mas nada também sem conquistas. Os grupos de Amor
Exigente podem despertar seus membros e as famílias para o processo
participativo na construção de uma nova sociedade, superando o paternalismo do
Estado e a mendicância de favores. Enquanto formos apenas atores do palco da
vida, corremos o risco de sermos manipulados. Mas quando nos tornamos autores
do texto e passamos a escrever um capítulo da história, então nossa maturidade
humana assume contornos mais definidos e luz própria. Sair da condição de
espectadores que apenas vaiam ou aplaudem. Sair da vitrine ilusória da vida
para agir nos bastidores da existência.
• Abrir-se para testemunhar a fé. A participação nos
movimentos da Igreja. Na condição de cristãos, acreditamos que a comunidade de
fé e vida é importante, seja para o crescimento pessoal, seja para o
fortalecimento na caminhada de recuperação, seja na multiplicação dos laços
fraternos na Igreja da qual fazemos parte. Não há espiritualidade sem vínculo
religioso. Assim nos ensinam os grandes mestres espirituais em todos os tempos
e em todos os credos. Não há qualidade de vida longe de um Poder Superior. A separação
entre fé e vida nos leva a um imobilismo doentio e um reino dividido em si
mesmo não se mantém. Portanto, unir crença e atitudes significa a busca de
coerência entre o dito e o feito. O que faz andar um automóvel é o acelerador e
não o freio. Participar de algum grupo, de algum ministério, de alguma pastoral
na sua Igreja, é realizar o princípio deixado pelo Mestre Jesus: “recebestes de
graça, de graça daí também vós”. (Mt 10,8).
A intuição mais original do Amor Exigente parece ter sido
esta: abrir os olhos para ver melhor: abrir o coração para sentir melhor: abrir
as mãos para agir melhor. E foi tão somente isto que procuramos fazer neste
itinerário de reflexão. Certamente não há nada de original nisso. Apenas nos
oferece a oportunidade de pensar e refletir o tema de forma orgânica. As
tarefas concretas, o agir adequado, o “como” ficará a cargo dos grupos, pois a
multiplicidade deles, a originalidade do mundo onde se movem e a grandeza das
pessoas que deles fazem parte, certamente fará crescem ainda mais em nós e no
mundo a ação transformadora de um Deus amoroso que só quer o nosso bem.
A verdade escrita na forma mais simples, participando de grupos, nos colocando como voluntários, temos oportunidade de avaliarmos nossos conceitos e preconceitos e, com certeza ganhamos em qualidade de vida, nos tornamos pessoas melhores, para nossa famílias e sociedade.
ResponderExcluirO amor exigente, os problemas enfrentados me fizeram cair no mundo real.
ResponderExcluirHoje sou eu mesma, forte, frágil, apenas humana.
Clessi
Parabéns uma leitura riquíssima.
ResponderExcluir