1. O sentido de ser criança
1. Para entender o que Jesus quer dizer que é necessário ser como uma criança para receber o Reino, penso seja fundamental ler outra passagem, presente em Mateus 18, quando Jesus coloca uma criança no meio da roda e diz: "Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus" (Mateus 18,3). Na mesma linha poderíamos ler o diálogo de Jesus com Nicodemos, em João 3, quando Jesus diz que é necessário nascer de novo e Nicodemos contesta: "Como pode um homem nascer, sendo já velho?"
Uma criança confia sem refletir. Não consegue viver sem ter confiança em que lhe está próximo. Não é uma virtude, mas uma realidade vital. Por isso, para encontrar Deus precisamos ter um coração espontaneamente aberto.
2. A frase grega que segue a sua questão, em Marcos e Lucas, pode também ser lida "acolher o Reino de Deus como se acolhe uma criança", pois o verbo usado tem o sentido de "acolher alguém", como em Marcos 9,37, quando Jesus fala em "acolher uma criança". Neste caso Jesus compara a acolhida de uma criança com a acolhida da presença de Deus. Existe uma relação secreta entre o reino de Deus e uma criança.
3. No versículo citado acima, Marcos 9,37, o contexto é aquele em que alguns discípulos discutiam quem devia ser o maior. Então Jesus toma uma criança e coloca no meio, dizendo: "Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos" (...) Aquele que receber uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe." Jesus, no fundo, está pedindo uma atenção prioritária para quem é frágil, para quem não tem o necessário, para os menores.
Mateus 1,18-25
Neste momento os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Quem é o maior no Reino dos céus?
2.Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse:
3.Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus.
4.Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus.
5.E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe.
6.Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar.
7.Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai do homem que os causa!
8.Por isso, se tua mão ou teu pé te fazem cair em pecado, corta-os e lança-os longe de ti: é melhor para ti entrares na vida coxo ou manco que, tendo dois pés e duas mãos, seres lançado no fogo eterno.
9.Se teu olho te leva ao pecado, arranca-o e lança-o longe de ti: é melhor para ti entrares na vida cego de um olho que seres jogado com teus dois olhos no fogo da geena.
10.Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus.
11.[Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido.]
12.Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se desgarra. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se desgarrou?
13.E se a encontra, sente mais júbilo do que pelas noventa e nove que não se desgarraram.
14.Assim é a vontade de vosso Pai celeste, que não se perca um só destes pequeninos.
2. A Natureza do ser Humano - sua Dignidade
No último dia da criação, disse Deus: “ Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1:26). Então, Ele terminou Seu trabalho com um “toque pessoal”. Deus formou o homem do pó e deu a ele vida, compartilhando de Seu próprio fôlego (Gênesis 2:7). Desta forma, o homem é único dentre toda a criação de Deus, tendo tanto uma parte material (corpo) como uma imaterial (alma/espírito).
Em termos bem simples, ter a “imagem” e “semelhança” de Deus significa que fomos feitos para nos parecermos com Deus. Adão não se pareceu com Deus no sentido de que Deus tivesse carne e sangue. As Escrituras dizem que “Deus é espírito” (João 4:24) e portanto existe sem um corpo. Entretanto, o corpo de Adão espelhou a vida de Deus, ao ponto de ter sido criado em perfeita saúde e não ser sujeito à morte.
A imagem de Deus se refere à parte imaterial do homem. Ela separa o homem do mundo animal, e o encaixa na “dominação” que Deus pretendeu (Gênesis 1:28), e o capacita a ter comunhão com seu Criador. É uma semelhança mental, moral e social.
Mentalmente, o homem foi criado como um agente racional e com poder de escolha: em outras palavras, o homem pode raciocinar e fazer escolhas. Isto é um reflexo do intelecto e liberdade de Deus. Todas as vezes que alguém inventa uma máquina, escreve um livro, pinta uma paisagem, se delicia com uma sinfonia, faz uma conta ou dá nome a um bichinho de estimação, esta pessoa está proclamando o fato de que somos feitos à imagem de Deus.
Moralmente, o homem foi criado em justiça e perfeita inocência, um reflexo da santidade de Deus. Deus viu tudo que tinha feito (incluindo a humanidade), e disse que tudo era “muito bom” (Gênesis 1:31). Nossa consciência, ou “bússola moral” é um vestígio daquele estado original. Todas as vezes que alguém escreve uma lei, volta atrás em relação ao mal, louva o bom comportamento ou se sente culpado, esse alguém está confirmando o fato de que somos feitos à própria imagem de Deus.
Socialmente, o homem foi criado para a comunhão. Isto reflete a natureza triúna de Deus e Seu amor. No Éden, o primeiro relacionamento do homem foi com Deus (Gênesis 3:8 indica comunhão com Deus), e Deus fez a primeira mulher porque “não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18). Todas as vezes que alguém escolhe uma esposa e se casa, faz um amigo, abraça uma criança ou vai à igreja, esta pessoa está demonstrando o fato de que somos feitos à semelhança de Deus.
Parte de sermos feitos à imagem de Deus significa que Adão tinha a capacidade de tomar decisões livres. Apesar de ter sido dada a ele uma natureza reta, Adão fez uma má escolha em se rebelar contra seu Criador. Fazendo isto, Adão manchou a imagem de Deus dentro de si, e passou adiante esta semelhança danificada a todos os seus filhos, incluindo a nós (Romanos 5:12). Hoje, ainda trazemos conosco a imagem de Deus (Tiago 3:9), mas também trazemos as cicatrizes do pecado. Mentalmente, moralmente, socialmente e fisicamente, mostramos os efeitos.
As boas novas são que, quando Deus redime uma pessoa, Ele começa a restaurar a imagem original de Deus, criando “o novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4:24; veja também Colossenses 3:10).
• Genesis 1,26-31 •
26 Então disse Deus:
"Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele
sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda
a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão".
27 Criou Deus o homem à sua imagem,
à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.
à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.
28 Deus os abençoou e lhes disse: "Sejam férteis e
multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar,
sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra".
29 Disse Deus: "Eis que dou a vocês todas as plantas que nascem
em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes.
Elas servirão de alimento para vocês.
30 E dou todos os vegetais como alimento a tudo o que tem em si
fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e
a todas as criaturas que se movem rente ao chão". E assim foi.
31 E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom.
Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o sexto dia.
3.O Modelo de convivência e consideração
3.O Modelo de convivência e consideração
Um dos pecados mais comuns, até mesmo entre alguns ditos cristãos, tem sido a acepção de pessoas, isto é, a discriminação de uma pessoa por causa da sua condição financeira, da sua posição social ou da sua aparência. A acepção de pessoas trata-se de uma atitude absolutamente anticristã, como veremos com detalhes neste capítulo. Tiago 2.1-13 enfatiza que nenhum cristão pode-se dizer verdadeiramente um cristão se vive favorecendo ou desprezando as pessoas devido à condição social delas.
Há vários textos na Bíblia que ressaltam esse pecado, porém, sem dúvida alguma, a passagem bíblica mais marcante e enfática sobre esse assunto é a que abre o capítulo 2 da Epístola de Tiago. Ao ser lida hoje, a referida passagem chama a atenção pela sua contundência, porém é preciso frisar que, na época em que Tiago a escreveu, ela soou ainda mais contundente do que hoje. Isso porque, nós, ocidentais, apesar do processo cada vez mais avançado de descristianização da sociedade ocidental, ainda podemos perceber o horror de tal atitude. Só que, nos tempos de Tiago, a cultura era totalmente outra, bem distinta da nossa.
O mundo, na época de Tiago, era caracterizado por profundas divisões sociais que eram aceitas normalmente pela maioria esmagadora da sociedade. Naquela época, agir com humildade era manifestação de fraqueza, não de virtude; e fazer distinção de pessoas por aparência ou por condições físicas ou socioeconômicas era visto como algo absolutamente natural. Logo, a mensagem cristã, ao ser proclamada, teria um impacto enorme na sociedade de então, porque ela batia fortemente de frente com toda essa cultura, ao pregar a humildade, o perdão, a misericórdia, a igualdade entre os seres humanos etc.
O Cristianismo nivela todas as pessoas, e o faz inicialmente com a afirmação de que “todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS” (Rm 3.23). Além disso, ele também ordena que amemos o nosso próximo incondicionalmente, independente de sua condição social, econômica, física, etc (Lv 19.18; Mt 22.39). Aliás, se hoje há menos discriminação do que houve no passado, isso se deve à influência do Cristianismo na história. Se o Ocidente mantivesse intacta a cultura pagã da Antiguidade, que, por exemplo, discriminava deficientes e pobres, com certeza a acepção de pessoas ainda seria vista hoje como a ordem do dia em vez de uma aberração moral, como realmente é. Sim, é verdade que houve falhas morais no passado nessa área — e hoje eventualmente ainda há — entre aqueles que professam a fé cristã, mas mesmo os mais críticos do Cristianismo não podem deixar de afirmar que esse não é o ensino do Cristianismo e que o mundo seria moralmente pior se não se deixasse impregnar minimamente pelos valores judaico-cristãos. Devemos o conceito de igualdade e de direitos humanos que temos hoje no mundo a esses valores.
Dito isso, vejamos a seguir, com detalhes, as razões bíblicas, apresentadas pelo apóstolo Tiago no capítulo 2 de sua epístola, pelas quais a acepção de pessoas é totalmente rejeitada pelos cristãos.
• Tiago2,1-4
Meus irmãos, na vossa fé em nosso glorioso
Senhor Jesus Cristo, guardai-vos de toda consideração de pessoas.
2.Suponde que entre na
vossa reunião um homem com anel de ouro e ricos trajes, e entre também um pobre
com trajes gastos;
3.se atenderdes ao que
está magnificamente trajado, e lhe disserdes: Senta-te aqui, neste lugar de
honra, e disserdes ao pobre: Fica ali de pé, ou: Senta-te aqui junto ao estrado
dos meus pés,
4.não é verdade que fazeis
distinção entre vós, e que sois juízes de pensamentos iníquos?
5.Ouvi, meus caríssimos
irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres deste mundo para que fossem
ricos na fé e herdeiros do Reino prometido por Deus aos que o amam?
6.Mas vós desprezastes o
pobre! Não são porventura os ricos os que vos oprimem e vos arrastam aos
tribunais?
7.Não blasfemam eles o
belo nome que trazeis?
8.Se cumprirdes a lei
régia da Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18),
sem dúvida fazeis bem.
9.Mas se vos deixais levar
por distinção de pessoas, cometeis uma falta e sereis condenados pela lei como
transgressores.
(Textos e comentários bíblicos: edições Ave Maria)
(Textos e comentários bíblicos: edições Ave Maria)
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