Vez em quando, pessoas nos perguntam quanto ganhamos para
trabalhar no programa Amor-Exigente e o que ganhamos é tanto, que fico até sem
jeito de responder. Ontem mesmo, saí um pouco, aproveitando o belo dia,
caminhei pelo centro da cidade, quando uma senhora me abordou. Toda feliz, ela
me relatou que o filho completou três anos longe das drogas.
Andei mais um pouco e fui parado por um pai. Ele recordou os
períodos em que participou conosco das reuniões do grupo, fez questão de
agradecer por tudo que aprendeu e pelo apoio que recebeu. Com um sorriso no
rosto, mencionou que o filho está fora das drogas, inclusive voltou a trabalhar
e a paz foi restabelecida no lar.
O dia já estava ganho quando, antes de retornar para casa, entrei
em um supermercado. Cruzei com uma família inteira que veio falar comigo. O
filho, usuário de drogas, terminou o tratamento e segue firme no propósito de
manter-se limpo. Fizeram questão de relatar o quanto o apoio do grupo está
sendo importante nessa batalha contra a dependência.
Não para por aí. Há poucos dias encontrei uma mãe que havia
participado por um longo período das nossas reuniões. Ela relembrou sua
participação no grupo e com os olhos marejados confidencio-me, emocionada:
“Conhecer o Amor-Exigente foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida”.
Não pensem vocês que estou contanto elogio como ganho ou que
buscamos isso em nossos trabalhos. Não é isso. Todos nós voluntários e
coordenadores, em nossa grande maioria, também chegamos um dia em busca de
apoio e orientação. Conhecemos de perto o drama da dependência química e
sentimos na pele o pesadelo de conviver com um adicto dentro de nossas casas e
o grupo nos trouxe tantos benefícios que ficamos para auxiliar e apoiar os que
estão chegando agora.
Sentimo-nos recompensados em cada caso revertido, em cada
jovem cuja dependência das drogas o fez conhecer o fundo mais obscuro do poço e
através do grupo, enxergou uma luz, uma possibilidade e se agarrou a ela com
vontade e determinação, retomando os rumos de sua vida. Está em cada cidadão,
cuja dependência do álcool, devagarzinho, foi tirando-lhe a saúde, o trabalho,
os recursos, a dignidade e em muitos casos até mesmo sua família e quando quase
ninguém mais acreditava ser possível, ele reuniu suas últimas migalhas de
forças e foi à luta, buscou apoio, encontrou no grupo pessoas que acreditaram
nele e ele começou a retomar os rumos de sua vida e como recompensa, foi
recuperando tudo o que a dependência lhe havia roubado.
Sentimo-nos recompensados por assistir a transformação da
família: mães, pais, esposas, etc. que chegam até nós, chorando, com vontade de
desistir, quase sem forças para continuar e que através do apoio do grupo,
descobrem que não estão sozinhos, que seu caso tem solução e a partir disso,
começam a reunir forças para enfrentar o desafio. Testemunhar esses familiares
que não encontravam mais motivos para viver, a recuperar as esperanças perdidas
e resgatar o sorriso apagado após tanto sofrimento, não tem preço.
Se estão pensando que nosso ganho se limita ao sucesso
alcançado pelos nossos semelhantes, também se enganam. É óbvio que trabalhamos
e nos dedicamos para isso e isso nos dá forças para continuar, nos enche de
alegria, no entanto, a pessoa mais beneficiada pelos nossos esforços, somos nós
mesmos. Nós também ganhamos muito em conhecimento, em sabedoria, em vivência e
experiência de vida. Cada pessoa que chega até nós, traz consigo uma bagagem de
vida e conhecimento capazes de transmitir enriquecimento aos nossos
conhecimentos. Se ainda tiverem alguma dúvida, conversem com qualquer pessoa
que desenvolve algum trabalho voluntário e rapidamente irão perceber o quanto
elas são diferenciadas.
Por fim, ainda colhemos os resultados do nosso trabalho em
nosso dia-a-dia, vivenciando o programa em nossas vidas, apoderando-nos dos
seus benefícios, construindo uma relação familiar equilibrada e influenciando a
educação e formação de nossos filhos. Como recompensa maior de tudo isso,
finalizo este texto com um relato de minha filha adolescente a uma de suas
professoras - “Agradeço a Deus pelo pai que tenho” – e eu agradeço a Deus, de ter
conhecido o Programa Amor-Exigente.
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